Quando a opinião do outro me afeta: reflexões
- Psicóloga Giselle Nanci Vitoriano Zanirato | CRP14/07467-2

- 30 de mai.
- 3 min de leitura
Não vou negar e inclusive repito, somos seres biopsicossociais (e dependendo do contexto em que se vive, espirituais também), e sendo assim carregamos grande peso do contexto social em que vivemos, o que esperam de nós é carta marcada, muitas vezes, para a vida toda, ou quase toda, se não nos focarmos em autoconhecimento.
Como devemos nos portar, como devemos nos vestir, quais as músicas que devemos escutar é influenciado diretamente pela visão social do nosso gênero. De quem deveríamos gostar é influenciado pelo nosso modelo de amor que aprendemos e também pelo que se é divulgado pela mídia, livros, filmes, histórias e papéis de gênero em um relacionamento romântico. As nossas crenças religiosas ou a ausência delas também nos colocam modelos a serem seguidos. O modelo econômico nos dita quais as profissões têm mais glamour e também nos são colocadas como metas, como devemos nos matar de trabalhar como sinônimo de sucesso. O nosso desempenho é medido, comparado e inclusive colocado num ideal irrealista. O que devemos comer, como devemos nos exercitar, como cuidar da saúde. Os hobbies da moda são incentivados, muitas vezes, nos fazendo sentir faltantes, entre tantas outras coisas.
A opinião do outro sempre nos coloca em lugares diferentes, os julgamentos pesam e podem nos fazer abrir mão ou até desconhecer quem somos. E aí nos perdemos nos vários personagens que precisamos assumir para agradar um tantão de pessoas. Umas pessoas mais, outras menos. Mas somos criados pelo Outro e somos também afetados pelo Outro. O Outro que aqui escrevo, é a nossa cultura, nosso contexto de vida que nos faz ser quem somos.
A vida vai tomando outros rumos quando nos tornamos mais conscientes de nós mesmos, mas mesmo sem ter essa consciência, ainda podemos sentir o impacto das nossas próprias escolhas. E, a depender de quem nos circunda, essas escolhas, nosso jeito único de ser pode vir carregado de culpa, incompreensão, raiva, tristeza, desistência e solidão.
Esse texto parece um tanto fatalista, confesso, mas aqui está um ponto que considero muito importante: nos conectarmos aos nossos reais desejos, nossos valores, o que é realmente importante para nós. E, muitas vezes, isso rompe com o que esperam de nós, ainda mais se pertencemos a algum tipo de “minoria” (entre aspas, pois numericamente sabemos que não somos), pois carregamos expectativas a mais sendo mulheres, ou pessoas racializadas, de classes sociais menos abastadas, pessoas LGBTQIAPN+, etc.
Quando nos resignamos aos julgamentos sobre nós, damos espaço ao sufocamento. Ouvi em um Podcast chamado “Para dar nome às coisas”, uma frase que para mim fez muito sentido:
“a morada do julgamento é a mágoa – é da m’ água parada em nós que surge a necessidade de julgar e apontar as escolhas que são diferentes das minhas” (Natália Souza).
Para sairmos dessas cartilhas que nos impõem, precisamos aprender e colocar em prática a separação das coisas:

. As opiniões dos outros, o que esperam de nós ou o melhor caminho aos olhos do outro podem não nos caber. E nós, muitas vezes, quando saímos do esperado, dos modelos impostos, nos sentimos responsáveis pela frustração das outras pessoas, tentamos amenizar, apaziguar e até podemos desistir dos nossos sonhos e objetivos.
Mas vem cá, não é nossa responsabilidade viver evitando que os outros se frustrem frente às nossas decisões sobre as nossas vidas. É óbvio que não estou falando para não sermos éticos e responsáveis quando nossas decisões atravessam o outro. Mas sim de aprendermos a sustentar as nossas escolhas que dizem sobre o nosso desejo e nos responsabilizarmos pelas dores e delícias do que vêm pela frente, inclusive a frustração dos outros por não agradarmos sempre.
Ao outro, cabe perceber o por que isso o afeta e trabalhar nisso. Assim como nós, quando e se estivermos nessa posição algum dia. Precisamos nos lembrar que a opinião do outro sobre nós diz sobre o outro. E quando a opinião do outro nos arrebata, aí passa a ser tarefa nossa refletir sobre isso.
Quem vos escreve, quase foi veterinária. Tenho amor imenso por animais, vivo pelos meus. Mas minha paixão pelo que é ser humano em sua total complexidade me fez ter uma fagulha de coragem e desistir para seguir meu sonho.
Quanto de vida você vai deixar de viver para evitar que os outros se frustrem quanto às suas escolhas?
Psicóloga Giselle Nanci Vitoriano | CRP14/07467-2


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